Hugh Glass, explorador e caçador de peles do século XIX, sobreviveu a um brutal ataque de urso e a uma traição que o deixou sozinho em território hostil, impulsionado pelo desejo de vingança. Sua história foi imortalizada no livro “The Revenant” de Michael Punke e na adaptação cinematográfica "O Regresso" (2015), dirigida por Alejandro González Iñárritu.
No entanto, tanto o livro quanto o filme tomam liberdades criativas, adicionando elementos que intensificam o drama, mas se afastam da realidade histórica. Neste artigo, exploramos as principais diferenças entre a vida real de Hugh Glass, o romance de Punke e a adaptação cinematográfica.
Hugh Glass: O Homem Real por Trás da Lenda
Nascido em 1783, Hugh Glass se tornou um dos mais conhecidos exploradores e caçadores de peles de sua época. Embora haja pouca documentação sobre seus primeiros anos de vida, sabe-se que em 1823, ele já trabalhava para a Rocky Mountain Fur Company, uma das principais empresas do comércio de peles da época.
Naquela época, os caçadores enfrentavam perigos constantes, como ataques de animais selvagens, conflitos com tribos indígenas e condições climáticas extremas. A vida no Oeste selvagem exigia habilidades excepcionais de sobrevivência e resiliência.
O Ataque do Urso e o Abandono por seus Companheiros
O evento mais famoso da vida de Hugh Glass aconteceu em 1823, enquanto explorava a região do Rio Grand (atual Dakota do Sul). Durante a expedição, Glass foi atacado por uma ursa grizzly, ficando gravemente ferido.
Dois companheiros da expedição, John Fitzgerald e Jim Bridger, receberam ordens para cuidar de Glass até sua morte e garantir que ele tivesse um enterro adequado. No entanto, ao perceberem que sua recuperação era improvável, eles decidiram abandoná-lo.
Contra todas as probabilidades, Glass sobreviveu sozinho, enfrentando ferimentos severos e percorrendo mais de 320 km até o forte mais próximo, movido pelo desejo de vingança contra aqueles que o deixaram para morrer.
O Livro “The Revenant”: Ficção Inspirada na Realidade
Em “The Revenant”, Michael Punke baseia-se na lenda de Hugh Glass, mas adiciona elementos fictícios para aprofundar a história.
A versão de Glass no livro é retratada como um homem introspectivo, cujos pensamentos detalhados sobre sua sobrevivência e sede de vingança adicionam uma dimensão psicológica intensa ao personagem.
A Vingança Como Motor Narrativo
Na vida real, Glass percorreu o longo caminho em parte motivado pela vingança, mas o livro exagera essa motivação, tornando-a o elemento central da trama.
A obra acompanha sua jornada por um monólogo interno carregado de ódio, dor e sede de justiça. Entretanto, Glass nunca matou Fitzgerald e Bridger. Quando os encontrou, acabou os perdoando, um detalhe frequentemente omitido nas versões mais populares de sua história.
Elementos Adicionados Para Dramatizar a Jornada
Para tornar a narrativa ainda mais intensa, o livro introduz eventos fictícios, como:
Encontros com tribos hostis
Obstáculos quase intransponíveis em sua jornada
Uma relação mais matizada com os povos indígenas (enquanto, na realidade, a interação entre caçadores e tribos era mais tensa e perigosa)
Embora Glass tenha, de fato, enfrentado desafios extremos, a obra exagera alguns desses eventos para criar uma narrativa épica de sobrevivência.

O Filme "O Regresso": Adaptação Cinematográfica e Divergências
A adaptação de 2015 leva a história para um nível ainda mais visceral, destacando:
A brutalidade do ataque do urso
A luta solitária de Glass pela sobrevivência
A transformação da vingança em um impulso quase primitivo
A atuação de Leonardo DiCaprio enfatiza o sofrimento físico e psicológico de Glass, levando o conflito a uma intensidade emocional maior do que no livro.
Elementos Fictícios na Narrativa
O filme adiciona uma subtrama que não existe nem na realidade, nem no livro:
Glass tem um filho mestiço, que é assassinado por Fitzgerald.
Esse evento não ocorreu na vida real, mas serve como um catalisador emocional, tornando a vingança de Glass pessoal e visceral.
Cenas de Sobrevivência Extremas
A produção apresenta momentos de sobrevivência que, embora realistas, são criações cinematográficas, como:
Glass dormindo dentro da carcaça de um cavalo morto para se aquecer.
Embora impressionantes, essas cenas não possuem registro histórico, mas foram incluídas para intensificar o drama da sobrevivência.

Diferenças no Desfecho
Na história real, após sua longa jornada, Glass encontrou Fitzgerald e Bridger, mas decidiu perdoá-los.
Já no filme, a conclusão é muito mais violenta, com uma luta intensa entre Glass e Fitzgerald, destacando a fúria e o desejo de vingança do protagonista.
Essa diferença mostra como Iñárritu optou por um final mais cinematográfico e impactante, adequado ao tom brutal da narrativa.
A Imersão na Produção do Filme
Para capturar o clima de isolamento e desespero, a produção de "O Regresso" foi realizada em locações remotas no Canadá e na Argentina, onde a equipe enfrentou temperaturas congelantes e condições climáticas severas.
O diretor Alejandro González Iñárritu e o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki escolheram filmar apenas com luz natural, resultando em uma cinematografia impressionante e realista.

Efeitos Visuais e o Ataque do Urso
A cena do ataque do urso foi criada com efeitos visuais avançados.
O urso foi gerado por computação gráfica, usando captura de movimento para torná-lo hiper-realista.
Leonardo DiCaprio passou por treinamento físico intenso, realizando cenas exaustivas para transmitir o realismo da luta pela sobrevivência.

A Preparação do Elenco e o Compromisso com a Realidade
DiCaprio passou por um rigoroso treinamento, aprendendo:
Técnicas de sobrevivência no frio extremo
Como acender fogo sem fósforos
Comendo fígado de bisão cru para uma cena realista
Esse compromisso extremo com a autenticidade lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator.
O impacto da cinematografia de Emmanuel Lubezki
O estilo visual de Emmanuel Lubezki contribui para a criação de uma atmosfera única, onde a natureza se torna um personagem essencial da narrativa. Suas longas tomadas, detalhadas e meticulosamente iluminadas, capturam tanto a grandiosidade quanto o perigo da vida selvagem.
Utilizando câmeras de alta definição e luz natural, Lubezki conseguiu criar cenas imersivas e dinâmicas, conferindo ao filme uma estética quase documental. Esse estilo visual ressalta a brutalidade da jornada de Hugh Glass, tornando a experiência ainda mais visceral para o espectador.
O sucesso crítico e cultural do filme
"O Regresso" foi um sucesso tanto de crítica quanto de bilheteria, recebendo inúmeros prêmios e elogios pelo seu impacto visual e pela atuação de Leonardo DiCaprio.
Além dos prêmios, o filme gerou um forte impacto cultural, popularizando a história de Hugh Glass e destacando as incríveis capacidades de resistência e sobrevivência humana. No entanto, a obra também tomou várias liberdades criativas, alterando aspectos da história real para intensificar o drama e a emoção.
Conclusão
A história de Hugh Glass, um homem que desafiou todas as probabilidades em uma jornada épica de sobrevivência, continua a fascinar gerações.
Tanto o livro “The Revenant” de Michael Punke, quanto o filme "O Regresso" de Alejandro G. Iñárritu, oferecem interpretações dramáticas de sua história, mas ambas se desviam da realidade histórica.
Essas adaptações não apenas exploram a jornada física e emocional de Glass, como também abordam temas profundos, como:
Vingança
Perdão
A luta do homem contra a natureza
Apesar das mudanças narrativas, o legado de Hugh Glass permanece como um símbolo de resiliência, e sua história continua a inspirar e impactar o público ao redor do mundo. Assista a filmes incríveis no Mercado Play.